domingo, 2 de março de 2008

o nosso futuro comum

amanhã, o nosso futuro comum é assinado por mim.

a procurar na um ou no site.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

a incompetência da tê-ém-éne

Estranhei quando ontem à noite o meu telemóvel deixou de "apanhar rede"; afinal estava em casa e nunca, até ontem, tinha deixado de ter cobertura de rede na minha casa. Porque hoje de manhã o problema persistia, decidi ligar para o número de atendimento ao cliente da TMN, o 1696.

Ao atender, a operadora perguntou-me o nome, o número do telemóvel e o pin original do mesmo. Quando lhe disse o pin, ela disse que o pin não era o original. Depois de insistir e dizer que estava a ler o pin a partir do cartão de segurança, a operadora disse-me que tinha solicitado, ontem, uma segunda via do cartão numa loja TMN. Incrédulo, perguntei-lhe em que loja é que tinha sido feito esse pedido. A resposta foi ainda mais incrível: Belavista, Lisboa. Ora, das duas uma: ou eu tinha ido a Lisboa pedir uma segunda via de que não precisava ou alguém tinha pedido uma segunda via do meu cartão. A primeira é, simplesmente, uma hipótese parva e a segunda é, simplesmente, inverosímil.

A operadora disse-me que era impossível ter havido algum engano na loja e, se alguém pediu a segunda via do meu cartão era porque tinha os dados do meu cartão. Tentei fazer-lhe ver que era impossível que alguém em Lisboa tivesse os meus dados, porque nunca perdi o cartão de segurança e, mesmo que tivesse perdido, era muito complicado que ele fosse parar às mãos de alguém em Lisboa. Disse-me para ir a uma loja da TMN para que me activasse o cartão, dizendo-me que aí a activação era imediata. Pedi-lhe que cancelasse a segunda via do meu cartão, mas depois de esperar bastante tempo, a operadora disse-me que a pessoa que pediu a segunda via do cartão tinha dito que o cartão era dela e por isso não podiam cancelá-lo. Voltou a dizer-me que numa loja da TMN activariam o meu cartão e cancelariam o cartão da outra pessoa.

Fui a uma loja TMN e expliquei a situação. A funcionária concordou comigo ao achar a situação tão incrível como absurda. Informou-me que em Braga não existe nenhuma loja oficial TMN e que só nessas lojas - e não agentes, como era o caso - é que podem activar e bloquear os cartões. Sorte a minha, tinha comprado o telemóvel e o cartão numa loja do grupo e a funcionária mostrou-se disponível para ligar para a loja a pedir uma cópia da factura e tratar do meu problema junto da loja oficial do Porto. Emprestou-me também o telemóvel dela para ligar à nova dona do meu telemóvel. Do outro lado da linha, uma brasileira que me disse que tinha pedido de facto uma segunda via, mas do cartão dela e não do meu. O problema deve ter ocorrido dada a semelhança entre os dois números, já que a diferença entre os dois números resume-se a um só algarismo.

Admito que se trata de um erro que qualquer um pode cometer. Não admito, porém, que a TMN não assuma que se trata de um erro e não tente resolver a situação imediatamente. Por causa de uma falha da operadora, fico privado de telemóvel durante uma semana. Para piorar a situação, o meu número continua activo e disponível para receber chamadas e mensagens escritas.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

igreja dos congregados

Reparei hoje que estão a restaurar as torres da Igreja dos Congregados. Não estranhei esse facto, mas sim o facto de o restauro ser aparentemente "patrocinado" por um stand de automóveis e uma padaria. Alguém conhece detalhes desta estranha parceria?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

lugar comum - das festas e das manifestas

Émile Durkheim, sociólogo francês, demonstrou que a religião é factor preponderante no estudo da coesão social. Foi mais além e provou que a igreja católica tem um maior poder agregador que a igreja protestante, sendo esta uma das razões apontadas pelo autor para justificar o facto de a taxa de suicídio ser menor entre católicos que entre protestantes; dizia que os católicos têm uma grande noção de comunidade social, enquanto os protestantes estão sozinhos perante Deus. A propósito desta teoria, podemos reflectir também sobre as ideias de Jorge Dias, antropólogo português, que distingue a Igreja-mãe de tradição católica latina do Deus-pai da tradição protestante. Ao passo que a primeira acolhe e inclui, a segunda tem um carácter mais individualista.

A igreja católica promove o conceito de partilha; uma partilha que é essencialmente de emoções e atinge o seu auge na eucaristia e nas festas comunitárias ou familiares. Esta partilha é, na verdade, uma celebração da fé. As pessoas unem-se na partilha porque todos partilham a fé na instituições, sejam elas a eucaristia, as festas dos santos padroeiros ou as festas em família. Falamos de festas, mas também de manifestos: manifestações de crenças em comum.

Tal como as festas são manifestações, também as manifestações são celebrações. A diferença entre as duas reside apenas no sentido da crença; enquanto que as festas celebram a crença, as manifestações celebram a descrença. Em ambas, porém, as pessoas partilham da mesma fé, seja ela positiva ou negativa em relação ao objecto. Para ilustrar esta ideia podemos voltar a Durkheim, que demonstrou que em tempos de guerra as taxas de suicídio baixam, justificando esse facto com um mais que provável sentimento de pertença a um grupo. Neste caso, um grupo une-se contra outro; celebra-se a crença no grupo de pertença e, ao mesmo tempo, a descrença em relação ao outro grupo.

Há ainda que distinguir entre os vários graus de fé, porque apesar de a fé ser incomensurável, a fé não é homogénea e permite-nos distinguir quatro níveis de crença. Podemos distinguir a fé dos profetas – dos actores responsáveis pela “catequização” –, a fé militante – dos actores comprometidos com a sua fé –, a fé por simpatia – dos actores que, apesar de acreditarem no objecto de fé, entendem a fé de forma menos abnegada e mais descomprometida – e a fé dos ateus – dos actores que não acreditam em qualquer objecto de fé.

Podemos identificar estes quatro grupos tanto nas festas como nas manifestações. Nas festas: a comissão de festas; os “festeiros” – associações, confrarias e outros grupos criados por entusiastas de determinadas festas; daqui costumam surgir os grupos nomeados para a comissão de festas –; os curiosos que se deslocam à festa; os detractores da festa. Nas manifestações: organizações não governamentais ou sindicatos, entre outras; militantes das organizações ou activistas por vocação; pessoas descontentes ou simpatizantes do descontentamento; pessoas que discordam dos motivos da manifestação. Tanto as festas como as manifestações assentam nos mesmos processos simbólicos, crescendo em esquemas organizativos em todo semelhantes.

Posto isto, só me resta desejar a todos vós umas boas festas e, se for o caso, umas boas manifestas.

Publicado originalmente no ComUM.

lugar comum - desaparições

Escrever sobre metafísica é arriscar imprecisões, porque mais facilmente confiamos na nossa ignorância do que duvidamos da nossa sapiência. Muito provavelmente, terão nascido daqui muitas das grandes guerras e disputas que marcaram a história da humanidade, já que são muito raras as vezes em que duas visões antagónicas dão origem a uma pacífica verdade universal. As discussões bipolarizam as opiniões e da bipolarização advem sempre a radicalização.

Há mês e meio, aquando da comemoração do 90º aniversário das aparições de Fátima, a RTP dedicou várias horas de transmissão televisiva ao acontecimento, cobrindo também a inauguração da nova Basílica de Fátima, facto que levou a que muitos telespectadores escrevessem ao provedor da RTP exigindo da televisão pública tratamento igual para todas as religiões, já que o estado se diz laico.

É recorrente confundir os conceitos de igualdade e liberdade. Se defendemos a igualdade ou pedimos tratamento igual para todas as religiões – desde uma fé que move milhões até uma que move meia dúzia de pessoas –, ou exigimos que todos tenham a mesma religião – ou todos abdiquem de ter uma. Por outro lado, a liberdade permite a coexistência ainda que tenha um carácter mais competitivo e, frequentemente, afogue as crenças com menor expressão. Este é um dos grandes desafios para a política de hoje que, apesar da secularização, se polariza entre uma direita-cristã e uma esquerda-ateísta; uma polarização que é, ainda assim, funcional, já que todos os cidadãos têm direito a ser representados em democracia, escolhendo para esse efeito partidos ou pessoas em quem revejam as suas ideias, mesmo que estas sejam de carácter estritamente religioso.

Para continuarmos é necessário distinguir três conceitos: país, estado e nação. De forma algo simplista, podemos definir os conceitos da seguinte forma: um país é um espaço delimitado geograficamente; o estado é o responsável pela criação e aplicação de políticas; a nação é um conjunto de membros com características culturais em comum. Posto isto, podemos conceber facilmente que uma nação não deve ser – nem o é em lado algum do mundo – obrigatoriamente laica, ao passo que um estado deve afirmar-se laico e independente das pressões das estruturas eclesiais. Daqui podemos considerar que um partido pode defender certos interesses religiosos – e aqui cabem várias religiosidades –, mas o estado tem, necessariamente, de ser independente em relação a eles – ainda que não exista uma fronteira óbvia entre o servir a religiosidade e o ser independente em relação à religião, ainda que hajam diferenças óbvias entre os conceitos de religião e o de religiosidade – e mesmo os dois são demasiado ambíguos para que os possamos discutir a fundo nesta crónica.

No Verão de 2004 o país uniu-se à volta de um símbolo: foram as bandeiras nas janelas; a maior bandeira humana no estádio nacional; as tantas praças portuguesas que se encheram para ver e apoiar a equipa de futebol nacional. Foi uma verdadeira celebração religiosa – ainda que profana – que reuniu todos os portugueses à volta de um símbolo em que todos acreditavam; uma crença comum. O mesmo se passa em Fátima: conta-se em milhões o número de pessoas que já peregrinaram ao santuário em nome da fé e da crença.

A televisão pública foi planeada para servir os cidadãos e nela cabem todas as crenças: do futebol à saudade dos migrantes; da informação séria e descomprometida aos filmes e séries; da programação para as massas do primeiro canal à exigência dos telespectadores da dois. Todos os cidadãos têm direito a uma programação pensada à sua medida, mas têm também o dever de compreender que a televisão pública é pensada para uma nação cada vez mais multicultural.
Chegados a este ponto somos capazes de entender que a democracia supõe que todos os cidadãos se sintam representados, mas também que a maioria tem direito a exigir mais tempo de antena. No que respeita à religião, penso que o programa A fé dos homens da :2 cumpre bastante bem o objectivo, já que todas as religiões têm o seu espaço. E é assim, aliás, que deve ser entendida a atenção mediática das várias crenças: todas devem ter espaço e direito à palavra, mas o espaço tem de ser sempre proporcional ao número de crentes.

publicado originalmente no ComUM.

lugar comum - crónicos

Há um mês fui convidado para escrever uma crónica de quinze em quinze dias para o ComUM, jornal online dos estudantes de Comunicação da UM. Escrevi duas crónicas - a última das quais saiu na sexta-feira -, mas como o site foi suspenso ontem já não é possível lê-las ou comentá-las. Nada de muito grave, não fosse o facto de ter acabado com a discussão que o Pedro começou. Uma discussão que ameaçava tornar-se tão agradável para mim como humilhante para o meu caro colega e amigo. Por essa razão, e por ele ter vindo espicaçar-me no post anterior, vou publicar as duas crónicas que escrevi para o ComUM, a ver se a discussão volta a pegar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

que se lixe o tempo e a melancolia